Portador do indicativo de chamada PY3HM, prestou exame de admissão no Rio de Janeiro, recebendo licença para estabelecimento de estação radioelétrica particular. Em 1940, recebeu o diploma de sócio da LABRE – LIGA DE AMADORES BRASILEIROS DE RÁDIO EMISSÃO. Em 1968, foi eleito diretor seccional da LABRE/RS, quando lançou publicações com o objetivo de incentivar o radioamadorismo.
Na 3a. Convenção Nacional de Radioamadores, realizada em Brasília, em 10 de dezembro de 1967, foi o orador escolhido para a sessão solene de abertura, quando pronunciou o discurso a seguir transcrito:
“Radioamadores:
Nos umbrais deste Congresso, quando o radioamadorismo brasileiro parece retomar aqueles pressupostos que o glorificaram no passado, convém que salientemos algumas peculiaridades que nos distinguem entre os homens, e que, por isso, exigem de nós um comportamento peculiar. Ninguém mais do que nós, radioamadores, vive e compreende a realidade de um mundo só, que Wendell Willkie buscou revelar à humanidade antes que ela se lançasse à última hecatombe. Sobranceiros à própria geografia, nem mesmo as distâncias nos dificultam, mas às vezes até nos facilitam, os contatos com outros homens, na comunhão das ideias e na avaliação dos sentimentos.
Vindos de todos os quadrantes, aqui estamos para esta terceira grande Rodada Nacional com os mesmos propósitos que nos animaram nas duas anteriores, injetados do sangue novo das novas gerações labreanas que se vêm juntando à velha guarda a que pertenço, beneficiados pelas surpreendentes conquistas da ciência, que revoluciona a técnica das comunicações e nos põe nas mãos cada dia um novo e mais poderoso instrumento de cultura, de educação e fraternidade. Vivemos no país melhor de todos, farto por si mesmo, convidando à contemplação e à alegria. Na sua largueza territorial apresenta aspectos e climas os mais variados. Mas o homem é um só, a consciência nacional é a mesma. O sentimento é idêntico no Pampa sem fronteiras, na Amazônia sem modelo e no Planalto Central de horizontes infinitos. No assobio do minuano ou no ruído da pororoca, nas maravilhas do São Francisco ou no perfume da mata virgem, no gorjeio da patativa ou no grito do quero-quero, nas geadas da minha querência ou nas caatingas ressequidas do Nordeste, na terra dadivosa ou na rocha dos descalvados, encontramos a mesma alma brasileira, de braços abertos à confraternização e ao amor. Esta alma está presente aqui, síntese das virtudes e dos defeitos que fazem dos brasileiros o mais humanizado dos seres sobre a terra.
Nós somos, os radioamadores, o maior clube leigo de serviços. Só as religiões poderão nos superar hoje, no ecumenismo do Vaticano II. Entre a imensa maioria dos que agem sem pensar e a inócua minoria dos que pensam sem agir, os radioamadores formam o contingente dinâmico dos que agem como pensam, fiéis a si mesmos, úteis ao próximo, servos da Pátria e servidores da Humanidade, artífices de uma ordem fundada no trabalho, na compreensão, na solidariedade e no exemplo. Fazemos da camaradagem um sistema e do companheirismo uma divisa, na pureza, às vezes ingênua até, das nossas práticas de rotina. Somos, em verdade, uma comunhão jovial de homens de boa-fé e de boa-vontade, em constante estado de graça com o mundo que nos envolve, e do qual nos sentimos o próprio centro, quando operando em DX, na instantaneidade que o SSB nos propicia, da presença simultânea dos nossos sinais em várias latitudes. Procedentes de todas as camadas sociais, compreendemos como ninguém os deveres inerentes à disponibilidade dos instrumentos de que dispomos.
Ainda agora estamos aqui reunidos para trocar ideias e conferir propósitos relacionados com as nossas atividades, que, por sua natureza, nos põem em situação privilegiada na comunidade dos homens de todas as nações. Façamo-lo com espírito de companheirismo e entendimento, corrigindo erros, suprindo omissões e acrescentando experiências, para que saiamos daqui mais conscientes da nossa missão de estafetas da compreensão humana. A despeito das divergências intransponíveis, há uma soma de idéias, meus caros colegas, de que milhões de homens compartilham, como se todos vivessem na mesma cidade ou no mesmo bairro, falem eles português, catalão ou russo. O segredo para viver em paz está na arte de compreendê-las e explorá-las em termos de afirmação dos valores humanos de convivência.
O mundo é um gigantesco reservatório de boa-vontade, porque, apesar de tudo, ele assenta em bases éticas e espirituais. As incompreensões são criadas e exploradas, quase sempre, por uma pequena minoria, em função de fatores episódicos. É essa pequena minoria que faz as guerras, que alimenta as discórdias, que envenena os espíritos, que perturba as inteligências, que implanta momentaneamente o caos. Conscientemente às vezes, mas quase sempre inconscientemente, porque os resultados lhe escapam às previsões, no panorama de fatos consequentes, no tropel dos quais a figura do inocente útil tem especial desempenho.
Claro que não é esse o nosso caso. Nem permitiríamos que no campo agremiativo em que vivemos viesse a se implantar o desentendimento e a confusão. Mas cumpre admitir, lisa e sinceramente, que a nossa entidade precisa reestruturar-se; que as suas próprias bases estão reclamando reformas substanciais e urgentes para que se ajustem à realidade do momento em que vivemos; que a revisão de nossa carta estatutária é uma imposição inadiável. E nos proponhamos a ela sem nenhuma preocupação personalista, num exemplo de coesão, que só esta fará do nosso sodalício o coordenador formal e autêntico das atividades radioamadoristas no país, para que a LABRE seja, de fato e de direito, uma só e verdadeira entidade nacional. A mera justaposição de pequenos núcleos de maior ou menor significação local – em que se expõe transformar-se qualquer corpo social da índole do nosso – enfraquece a força da estrutura associativa e compromete a segurança das suas finalidades.
Devemos considerar que, constitucional e financeiramente, a LABRE não é, nem deve ser, uma federação de entidades; não é, e não convém que seja, um organismo composto, de segundo grau, mas um ente nacional, uno e unificado, com circunscrições administrativas locais, ao serviço de um único propósito de coordenação, defesa e disciplina das atividades radioamadoristas de seus membros.
Apesar de legítima, sob certos aspectos, e até válidas em circunstâncias que não nos particularizam, quanto menos encorajamento dermos a tendências regionalistas, tanto mais estaremos enfatizando o prestigio do radioamadorismo nacional, aspiração comum de todos nós, e que só a unidade é capaz de potencializar. Impediríamos, enfim, que sortilégios do destino, fortalecidos pela inércia, viessem eventualmente, mau grado nosso, a transformar os componentes regionais em quantidades heterogêneas, impróprias, por isso, à soma dos respectivos valores, que são deveres inestimáveis.
Essa tarefa de preservação e de reerguimento é talvez aquela que mais desafia os nossos esforços e a nossa capacidade de compreensão. Precisamos pôr nossa inteligência em sintonia com os fatos, relacionar fatores positivos, desprezar quantidades negativas, voltados apenas para o futuro do radioamadorismo em que nos engajamos. Os demais problemas são apenas consequentes, e se refletem nas inúmeras teses e proposições que enriquecem os nossos anais, e que hão de ser debatidas com o espírito público, que é o apanágio de todos os radioamadores brasileiros, aqui tão bem representados por estas luzidas delegações. Assente sobre alicerces firmes, com montagem jurídica própria e adequada às virtualidades nacionais, poderemos partir para a jornada decisiva sob as inspirações do nosso patriotismo e para o prestígio sempre maior da Rede Nacional de Radioamadores.
Esta mensagem que transmito, e que faço chegar também aos colegas distantes que nos ouvem no QTC nacional, certo de que ela reflete a aspiração generalizada desta Convenção, como pedra de toque da grandeza da LABRE. Em nome de todos os convencionais, formulo à Mesa as nossas efusivas congratulações pela perfeita organização deste conclave, cujo êxito se antecipa, luminoso como o sol de Brasília, eis que se inicia sob o calor do nosso entusiasmo e de nossa irreprimível fé nos destinos do radioamadorismo brasileiro.”
Obs.: Texto do livro “CLIO FIORI DRUCK – UMA PERSONALIDADE NO TEMPO”, de autoria de ELIDA DE FREITAS E CASTRO DRUCK, ex PY3AI.
Colaboração: IVAN DORNELES RODRIGUES – PY3IDR