O
SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS)
Sr.
Presidente, Srªs e Srs. Senadores, Srs. da direção dos
radioamadores de Brasília e do Brasil, comemora-se hoje, 5 de
novembro, a data dedicada aos radioamadores. Aproveito esta
oportunidade para enviar os meus cumprimentos aos milhares de
radioamadores que, espalhados por todo o Brasil, têm prestado
tantos e tão relevantes serviços a este País.
Embora
o radioamadorismo seja uma atividade essencialmente voltada para a
intercomunicação e à pesquisa técnica, são freqüentes as
oportunidades, especialmente por ocasião de grandes catástrofes e
acidentes, em que seus praticantes utilizam transmissores e
receptores para auxiliar pessoas ou comunidades. Mesmo quando
circulam pelas rodovias em seus automóveis, os radioamadores,
muitas vezes, conseguem mobilizar com grande rapidez e eficiência
os recursos necessários ao socorro de pessoas feridas em desastres
automobilísticos.
Na
minha opinião, o mais importante é que esse serviço é sempre
prestado de forma desinteressada. O que move os radioamadores é a
solidariedade, é o amor ao próximo. Numa ocasião como esta, não
poderia deixar de recordar os extraordinários feitos do padre gaúcho
Roberto Landell de Moura, o pioneiro mundial na transmissão à distância
das voz humana, sem utilização de fios.
É
interessante destacar que o inventor italiano Marconi, que agora
goza de fama internacional muito maior do que a do brasileiro, foi
pioneiro na transmissão de sinais telegráficos, ou seja, o invento
de Landell de Moura teve uma dimensão bem maior, porque se tratava
da transmissão da voz, um significativo avanço em relação a
Marconi.
Nascido
na cidade de Porto Alegre, em janeiro de 1861, Roberto Landell de
Moura fez toda a sua formação eclesiástica em Roma, onde
ordenou-se em 1886, quando retornou ao Brasil. Por aqui exerceu as
suas atividades religiosas e também científicas até sua morte, na
sua cidade natal, quando já era monsenhor.
As
vitoriosas experiências do padre Roberto Landell de Moura tiveram
lugar em São Paulo, em 3 de junho de 1900, sendo amplamente
divulgadas por jornais da época. Diz o Jornal do Comércio, de 10
de junho de 1900, que "do alto de Santana, cidade de São
Paulo, o padre Landell de Moura fez uma experiência particular com
vários aparelhos de sua invenção, no intuito de demonstrar
algumas leis por ele descobertas no estudo da propagação do som,
da luz, da eletricidade, através do espaço". Essa demonstração
em São Paulo chegou a ser assistida pelo embaixador britânico no
Brasil, Sr. P.C Lupton.
Depois
de ter obtido as patentes brasileiras de suas invenções, em 1901,
o padre Roberto Landell de Moura viajou aos Estados Unidos, onde
solicitou e obteve, já em 1904, patentes para um transmissor de
ondas, um telefone sem fio e um telégrafo sem fio. O jornal New
York Herald fez, em 1902, uma extensa reportagem, ressaltando o
trabalho do cientista brasileiro.
Sr.
Presidente, Srªs e Srs. Parlamentares, sempre me impressionou o
fato de o padre Roberto Landell de Moura ter sido um cientista
brasileiro, pioneiro, embora vivendo no Brasil. Como se sabe, a
produção científica daquela época estava concentrada na Europa e
nos Estados Unidos, mesmo assim o inventor gaúcho tomou a dianteira
do seu tempo, o que prova que, em muitos casos, a genialidade de um
homem e sua dedicação à causa da ciência pode representar mais
do que a existência de vastos recursos técnicos ou financeiros.
Mas,
no momento em que faço o elogio a Roberto Landell de Moura, também
tenho em mente que, lamentavelmente, os governos brasileiros, um após
outro, vêm tratando com grande descaso a ciência e a tecnologia.
Hoje, mais do que nunca, as nações mais ricas e desenvolvidas são
aquelas que dispõem dos maiores recursos técnicos e científicos.
O Brasil, infelizmente, destina poucos recursos a essas áreas. Está
na hora de mudar. O Brasil tem que investir em ciência e tecnologia
sob pena de ficar para trás, de ser condenado a uma posição
secundária no cenário das nações.
Reafirmo
a minha saudação de modo especial, Sr. Presidente, aos
radioamadores brasileiros, que tantos serviços têm prestado a este
País e que provam, com sua atividade, que a solidariedade é ainda
um valor muito cultivado entre nós.
Estamos
vivendo um momento muito difícil, Sr. Presidente. O Ministro da
Justiça faz um apelo no sentido de que o Congresso Nacional, o
Poder Executivo e o Poder Judiciário se unam no combate ao crime
organizado, que está avançando e se organizando neste País. Com
relação ao narcotráfico, nós imaginávamos que o Brasil fosse
apenas um corredor de passagem do tráfico, entretanto,
lamentavelmente, verifica-se que temos núcleos locais de grande
coordenação. Portanto, olhando para todos os Poderes e todos os
segmentos da sociedade, ficamos a nos perguntar: para aonde vamos? O
que fazer?
Sr.
Presidente, baseado nas várias experiências que podemos
apresentar, nas várias fórmulas que observamos em torno de nós
mesmos, quando se fala que temos que buscar a solidariedade, quando
se fala que o Brasil deve ter a presença de seus filhos, quando se
fala que não podemos esperar que a solução venha apenas dos
governantes, mas que temos que transformar a sociedade brasileira,
parece-me que, olhando para os radioamadores, vemos ali um setor que
é um exemplo de trabalho. Neste País, cada um deveria fazer a sua
parte; neste País, cobra-se das autoridade que elas façam, mas não
fazemos o pouco que deveria fazer cada um.
Lamentavelmente,
tenho repetido muito isto: no Brasil, ao contrário de vários países
do mundo, a participação da comunidade na busca do bem da
sociedade e do País é muito pequena. Primeiro, porque o Governo não
se preocupa; segundo, porque não há esse sentimento, não há essa
formação de se entender que o Brasil é nosso e que cada um deve
fazer a sua parte.
O
brasileiro é tratado como alguém que não tem maior significado.
Ele é olhado à véspera da eleição para dar o seu voto; depois,
cada um que siga o seu caminho.
Para
termos o Brasil que sonhamos, o Brasil onde haja participação, o
Brasil onde o cidadão tenha a cidadania; em que tanto o cidadão da
favela, o mais humilde, como o mais importante tenha orgulho de ser
brasileiro e se sinta dono da sua terra e participativo do
desenvolvimento do seu País; o Brasil que busca esse trabalho
participativo, esse trabalho voluntário e espontâneo, se olharmos
alguns exemplos aqui e acolá do que já é feito e do que pode
servir de exemplo para alcançarmos o nosso objetivo, devemos ter
como exemplo os radioamadores.
O
radioamador é um cidadão que encontra alegria e prazer se
comunicando, participando e ajudando. Ele está ali, na sua casa,
com o seu equipamento, falando com o Brasil e com o mundo;
identificando-se, buscando conversar, analisar, debater, discutir e,
basicamente, sempre que possível, ajudar. No nosso Rio Grande do
Sul, é impressionante o número de radioamadores; é impressionante
o trabalho que eles prestam, a sua dedicação e a preocupação que
têm no sentido de ajudar, no sentido de colaborar. Se há um
acidente lá no interior, onde muitas e muitas vezes não há
absolutamente outra forma de comunicação, é o radioamador quem
transmite a informação. A pessoa que a recebeu, então, sai de
casa e vai à procura daquele a quem a notícia é destinada. A
informação, às vezes, é triste, mas necessária e importante;
outras vezes, tem-se a oportunidade de salvar uma vida.
Olha,
que serviço, que espírito de dedicação profunda é esse que faz
essas pessoas se sentirem felizes executando esse trabalho? Numa época
em que muitas vezes encontramos a felicidade no gasto, no prazer, na
concentração de riqueza, quando se sai por aí com mil fórmulas
de diversão e de distração que o mundo oferece?! Essas pessoas
encontram prazer exatamente na solidariedade, na dedicação, no
afeto, no trabalho participativo. Essa é a maneira de se sentirem
felizes.
Tenho
dito sempre que a felicidade é um estado de espírito. A felicidade
não está no dinheiro, nem no poder, nem na riqueza, nem na beleza.
A felicidade está em se fazer algo e se sentir feliz por fazê-lo.
Alguns entendem que são felizes exercendo o poder; às vezes, sendo
tiranos, como Hitler; outros querem se perpetuar no poder, buscando
a reeleição, tentando ficar a qualquer preço; outros encontram a
felicidade no dinheiro. Crescer, desenvolver, ser mais rico, mais
poderoso, mais portentoso, com mais força; outros encontram a
felicidade em fazer a sua parte. Gente simples, mas gente honrada;
gente simples, mas gente feliz. Um trabalhador, um funcionário público,
um pequeno empresário, um comerciante do interior, um aposentado;
mas está ali com a sua mulher, com os seus filhos, com a sua família.
Está ali com a sua renda média, enfrentando o dia-a-dia das
dificuldades, que, se de um lado, leva muitos brasileiros à miséria,
de outro, faz com que muitos da classe média também sintam os seus
efeitos. Porque eles têm que manter um status quo.
O
cidadão da classe média tem uma casa - ou dele ou alugada - e tem
que mantê-la. Ele tem os seus filhos na escola e deve mantê-los na
escola; ele tem que ter uma aparência. Se trabalha, se é funcionário,
tem que manter uma aparência, usar uma roupa normal, porque, se ele
aparecer em frangalhos, não será recebido.
Muitas
vezes tem sido difícil manter esse status de classe média. Mas há
pessoas que conseguem mantê-lo, que enfrentam essas dificuldades e
se sentem felizes; sentem-se felizes prestando serviços, como é o
caso dos radioamadores. A felicidade é pura, cristã, bela em fazer
algo que é útil, que os deixa tranqüilos falando com o mundo e
colaborando, sempre que possível, para ajudar o seu
semelhante.
No
dia em que, neste Brasil - assim como os radioamadores têm uma
ocupação e exercem uma atividade, somando para a ação -, cada um
de nós fizer a sua parte, no dia em que os milhões de brasileiros
- cada um trabalhando para si; é importante que o façam para o
sustento da sua família - encontrarem uma parcela de tempo para
trabalharem para a sociedade, o País será bem melhor.
Uma
determinada revista publicou - não me lembro qual - várias páginas
sobre uma senhora da alta sociedade do Rio de Janeiro que fez um
festa de arromba para comemorar o aniversário do seu cachorrinho. E
a alta sociedade, a alta burguesia se sentiu importante e brigou,
disputou um convite para entrar nessa festa. Lá estavam as
fotografias das senhoras com jóias e tudo o mais.
Lá
estava o cachorrinho ou a cachorrinha, não sei; o rei ou rainha da
festa! Vestia um modelo especial. Não foi nem comprado nas butiques
que se vêem em Brasília, com preços caríssimos, para roupas de
animais. A dela não; a dela foi um modelo exclusivo, feito
especialmente para a ocasião por um figurinista.
Lá
estava numa festa memorável, festejando o aniversário da
cachorrinha! Disse ela: "O dinheiro é meu. Faço o que quero
com o meu dinheiro".
Talvez
não exista no mundo um país como o Brasil, onde haja tantas
pessoas criando animais de luxo, como nas cidades de Brasília, Rio
de Janeiro e São Paulo. Em vez de criarem animais de luxo, poderiam
estar criando uma criancinha que está na rua.
É
por isso que digo: se cada um fizesse a sua parte, quão diferente
seria este Brasil. Se tivéssemos a sensibilidade de olhar para os
lados e pensar no que eu posso fazer, e não olhar e dizer que isso
não é missão minha, como seria diferente este País.
É
por isso que, neste momento, fico muito feliz por levar o meu abraço
aos radioamadores de todo o Brasil, pelo seu dia, e de lhes dizer
que, no que for possível, temos que fazer o máximo de esforço
para que o Ministério das Comunicações e o Governo brasileiro
permitam que exerçam a sua missão e que levem adiante o seu
trabalho. Até acho que algo a ser discutido é se o Governo não
poderia, nos seus vários projetos de auxílio social, dialogar com
a direção dos radioamadores e ver o quanto mais eles poderiam
ajudar em vários projetos do governamentais, se o Governo assim o
quisesse.
Encerro
muito tranqüilo, Sr. Presidente. Que bom que, em meio a tantas notícias
ruins, a tantas questões lamentáveis, possamos olhar para a
sociedade brasileira e ver que há um grupo unido e coeso pelo ideal
e pelo sentimento, e que a sua alegria consiste em fazer o bem e
estender a fraternidade a toda a sociedade. Que bom será o dia em
que esse exemplo não for mais algo isolado, até meio esquecido,
mas apenas o exemplo de uma facção da sociedade, a exemplo de
outras tantas que também podem fazer a sua parte.
Muito
obrigado, Sr. Presidente. |