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NAZARENO
MEDEIROS - PP1WT
Engenheiro
civil, radiotelegrafista, nasceu em 05 de novembro de 1927, na
cidade de Laguna, Estado de Santa Catarina, filho de Cypriano
Medeiros e Eduardina Custódia de Medeiros.
Cursou
o primário em dois estabelecimentos de sua cidade natal, a Escola
Comendador Rocha e o Grupo Escolar Jerônimo Coelho.
Para
o curso secundário foi bolsista da Prefeitura Municipal de Laguna,
cursando as quatro séries no Ginásio Lagunense, destacando-se como
o primeiro aluno em todos os anos.
Seu
primeiro passo para radioamador foi dado, absolutamente sem este
pensamento, quando decidiu estudar o Código Morse com um seu antigo
colega dos bancos escolares, chamado
Wilmar Toniatti Soares.
Do
tempo de secundarista, demonstrou forte pendor para as ciências
exatas, como a matemática e a física.
Daí
foi natural sua curiosidade pela eletricidade e pela eletrônica
quando ingressou na vida militar, na época adequada, cursando a
Escola Técnica de Aviação, em 1945/46, em São Paulo, capital,
sito na rua Visconde de Parnaíba, no Bairro do Brás.
Em
conseqüência, deixou a Escola com a graduação de terceiro
sargento radiotelegrafista (3S-QRT-TE) do Ministério da Aeronáutica.
Enviado
para o Rio de Janeiro para apresentar-se na Diretoria de Rotas Aéreas,
foi classificado para prestar serviço na Base Aérea de
Salvador-BA.
Durante
sua estadia naquela Unidade, foi chamado para substituir um outro
telegrafista em Aracajú-SE, lá permanecendo por 30 dias,
aproximadamente.
De
volta a Salvador, já estava transferido para a 3a. Zona Aérea, por
determinação do Brigadeiro Eduardo Gomes, seu chefe supremo. Mas
esta transferência se destinava ao cumprimento do dever na Base Aérea
de Florianópolis-SC.
Durante
o tempo que lá permaneceu, travou conhecimento com alguns
radioamadores, como João Radzminski, Augusto Livramento, Percival
Callado Flores - PY5QX, atualmente PP5QX e, em Laguna, com Humberto
Zanella e Carlos Cordeiro Horn - PY5UW.
Em
1951 prestou concurso para o cargo de escriturário no Banco do
Brasil S.A., tendo sido aprovado e designado para a agência de
Blumenau-SC.
Contatando
pessoalmente com Moacyr Segurado - PY5UD, começou, então, a
providenciar suas futuras atividades como radioamador, após ter
recebido do colega a certeza de sua cooperação.
Como
primeira providência a instalação de uma antena (para os 40
metros, evidentemente...), uma vêz que iria usar um transmissor
emprestado até que as coisas melhorassem.
Para
a antena, as etapas foram as seguintes:
1
- adquirir dois troncos de palmeira com a altura adequada;
2
- transportá-los, com a ajuda de amigos, utilizando uma bicicleta
que comprara, até o QTH (Beco Timbó, s/nº.);
3
- cavar os dois buracos no terreno disponível (felizmente de pouco
consistência), utilizando a ferramenta que estava à mão: uma
chave de fenda! Por isso só foi até onde o braço alcançava: uns
45 centímetros;
4
- instalar as carretilhas para receberem os arames galvanizados para
suspender a antena já preparada, com a descida feita em fio comum,
torcido;
5
- agora, o esforço maior, plantar os dois mastros;
6
- finalmente, ligar o fio de descida ao transmissor.
Sua
permanência em Blumenau permitiu-lhe conhecer Luiz Gonzaga Medeiros
- PY5QB, João dos Santos - PY5QL, Wilson Santiago - PY5UG e também
fazer alguns QSO's com os colegas que ficaram por Florianópolis.
Mas
o destino lhe reservava uma nova mudança de QTH; em sua cidade
natal abriu uma agência do Banco do Brasil S.A. e, era natural, ele
perseguiu o retorno a terra de Pedro Raimundo.
Já
em Laguna, ocupou uma casa de dois andares, ficou sem poder colocar
a antena e entrou em QRT.
Nova
mudança de cidade veio a ocorrer, agora para a capital do Espírito
Santo, onde está até a presente data.
Chegou
em Vitória em 11 de novembro de 1954, acompanhado de sua esposa e
um casal de filhos; na bagagem muitos livros e revistas de rádio e
eletrônica, com especialidade os exemplares da Revista ANTENNA,
cuidadosamente conservados desde os seus 18 anos (ele tem a idade
daquela revista, vocês sabiam disso?).
Ocupando-me
agora dos aspectos radioamadorísticos de Nazareno, devo dizer que,
como um PY consciente que era, tratou logo de encontrar o responsável
pela LABRE em Vitória, afim de cumprir os preceitos da legislação.
Conforme
determinava a Portaria nº. 936-MVOP, em vigor, era de sua
responsabilidade informar ao D.C.T. - Departamento dos Correios e
Telégrafos sua mudança de domicílio e aguardar a atribuição de
um novo indicativo de chamada para poder operar sua estação.
Isto
foi feito com a colaboração de PY1UM - Benjamim de Souza Gomes,
Diretor Estadual da LABRE no Espírito Santo, que o preveniu de uma
possível demora, coisa que era comum na época.
Finalmente
chegou o novo indicativo de chamada: PY1WT e tal fato lhe foi
comunicado pelo Diretor, por telegrama. Nazareno já podia
comunicar-se com os colegas, dentro das regras da portaria.
As
dificuldades financeiras para a aquisição de um transmissor
animava-o à construção de um, especial para o uso de CW (muito
mais fácil de executar); mas se ajuntavam as dificuldades topológicas
para instalar uma antena e o tempo foi passando...
Quando,
finalmente, conseguiu alguma coisa neste sentido, manteve alguns
contactos radiotelegráficos com PY1NDB, de Campos-RJ, o que o
animou a prosseguir nas experiências com o transmissor que construíra,
chegando a alguns QSO's em AM, utilizando um pequeno alto-falante
como microfone...
Mas
como tinha de dar conta do batente, pouco tempo lhe sobrava para
lides operacionais. No aspecto radioamadorístico, aliás, sempre
foi mais “administrador” do que telegrafista.
Assim,
seu envolvimento era cada vez maior com os interesses
administrativos da LABRE/ES, o que lhe valeu o cargo de Secretário
nas eleições da Diretoria ocorrida em...
O
Diretor eleito foi PY1XE - Henrique Bucher que “topou” a
“reforma” da secretaria que lhe foi proposta.
O
acervo administrativo foi levado para sua casa e, após examinar bem
o caso, verificou que só com um “desmanche” das pastas poderia
por em ordem tudo o que ali estava.
Já
se havia passado um tempo suficiente para que sua amizade com o
ex-diretor Benjamin lhe rendesse um presente: um belo pacote de QSL's
para os seus QSO's que, infelizmente, estavam custando a se esgotar.
Assim,
resolveu Nazareno que haveria melhor utilização dos QSL's se os
usasse como fichas de um arquivo onde ficariam registradas todas as
ocorrências havidas com os associados.
Para
tal ainda havia o trabalho de colocar em ordem cronológica todas as
cartas, ofícios, recibos, etc. existentes, o que lhe custou um razoável
tempo de operações; mas ao fim, estava tudo organizado!
Executando
como havia pensado, encomendou uma caixinha de madeira, nas dimensões
adequadas e passou a copiar dos arquivos da Diretoria, em cada ficha
individual, tudo o que havia a respeito de cada um dos associados,
em forma resumida, mas com a indicação INSUBSTITUÍVEL da data de
cada ocorrência.
Na
LABRE CENTRAL, no Rio de Janeiro, ocupou a Presidência Cícero
Barreto - PY1CQ (quem não o conheceu pessoalmente poderá encontrar
uma foto sua na capa de um dos números da revista QTC).
Um
belo dia o Diretor da LABRE/ES se desentendeu com o Presidente e
acabou por colocar nas mãos de PY1WT - Nazareno, os encargos de
Diretor.
Algum
tempo após, nos seus esforços para acelerar os processos de
radioamadores no D.C.T., que era quem expedia as licenças, passou
PY1CQ a exigir dos candidatos a radioamador, o pagamento de uma
pequena taxa, sem justificar a razão.
Nazareno
achou que os candidatos, que sabiam por qual razão pagavam todos os
emolumentos cobrados, deveriam ser informados da nova taxa e passou
a questionar o Presidente a respeito. Mas ele sempre “fugia” da
resposta!
E
aconteceu que o Presidente foi a Vitória-ES. Estava ali a ocasião
de saber o por que do mistério.
Numa
reunião com o Conselho e a Diretoria, realizada numa sala do Edifício
Alvares Cabral, no centro de Vitória, Nazareno soube que se tratava
de uma gratificação a alguns funcionários do D.C.T. em pagamento
de horas extraordinárias para assim acelerar o andamento dos
processos de radioamador.
Seria
tudo muito simples não fosse um pequeno detalhe; momentos antes de
“contar a verdade”, PY1CQ declarou que “o que ele iria dizer NÃO
PODERIA FICAR GRAVADO”, tinha esquecido, havia um gravador Geloso
em funcionamento!
Também
isto passaria desapercebido não fosse a ocorrência de fatos mais
graves ocorridos na LABRE CENTRAL, pouco tempo depois.
O
Conselho da LABRE CENTRAL cobrou irregularidades de Cícero,
terminando com a sua deposição.
Mas,
na ocasião, Manços Perdigão di Cavalcanti - PY1XW se encontrava
no Rio e, por um telex, pediu ao Diretor em Vitória, PP1WT,
credenciais para representar o Espírito Santo. Nazareno,
considerando o problema que por lá estava acontecendo, não lhe
autorizou; mas, alguns dias mais tarde, relembrando o que dissera
PY1CQ ao gravador, imaginou que “bomba” seria, caso PY1XW
apresentasse a gravação feita em Vitória!!!
Em
1961 cursando Engenharia Civil na UFES, Nazareno entrou em contacto
com o IBM1401, cursando programação em linguagem Fortran. E
aqueles pendores de matemática e física, complementados com
eletricidade e eletrônica, se “alojaram” em computadores.
E
passou a programar com afinco, movido pelo desafio que representava
uma programação. E logo, logo, levou os conhecimentos para o uso
na LABRE/ES, produzindo uma relação dos associados e radioamadores
ligados a sua Diretoria que, em reunião do Conselho Federal, em
Brasília, foi apresentada aos que lá se encontravam por PY1XI -
Clemente Maria Horta Pinto, representando o Espírito Santo.
Segundo
afirmou este colega, foi um fato pioneiro na Liga de Amadores
Brasileiros de Rádio Emissão.
Existe
ainda cópia desta relação em poder do biografado.
Quando
Nazareno resolveu ser radioamador classe A, ainda estava em vigor um
dispositivo que permitia o acesso de B para A mediante a apresentação
de QSL's comprobatórios de haver o radioamador operado durante um
ano, fazendo QSO's em CW
e fonia; estes QSL's era apresentados ao Diretor Estadual que
atestava o fato, sendo este atestado anexado ao requerimento do
interessado, que assim ficava dispensado de provas normais (era
promovido por requerimento; e foi ai que começou a aparecer os
“Cosme e Damião”, “chopp-duplo” e outras gírias com a
finalidade de conseguir QSL de comunicados em telegrafia).
Mas
sendo telegrafista profissional, Nazareno preferiu se inscrever para
os exames normais de promoção de classe, tendo sido o único
inscrito e aprovado quando da realização das provas.
A
Portaria nº. 936-MVOP lhe assegurava o recebimento de seu diploma
de classe A, entretanto o tempo passava e o diploma de aprovado não
vinha.
O
recurso foi “apelar”para uma troca de correspondência que durou
um bom tempo e que teve nuances bem engraçadas pela falta de atenção
demonstrada pelas autoridades envolvidas.
Todos
os detalhes foram descritos em um livreto intitulado
“RADIOAMADORISMO NO ESPÍRITO SANTO”, composto por Nazareno,
onde relata muita coisa do radioamadorismo capixaba, no período que
vai de 1936 a 1980.
Nazareno
é um profundo conhecedor da história do radioamadorismo e da
LABRE, privilegiado colecionador da Revista QTC, publicada
mensalmente como órgão oficial da LABRE, revista técnica de rádio,
editada na década de 1930, 40, 50 e 60.
Foi
Diretor Seccional e Presidente do Conselho Seccional da LABRE/ES.
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