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SE
EU FOSSE PROFESSOR E ...
Se eu fosse professor e, em resposta à pergunta de um
aluno curioso, tivesse de explicar, em aula, quem foi o inventor da
telegrafia sem fio, eu, pondo de lado meus velhos compêndios, e
esquecendo os ensinamentos adquiridos e estudos feitos no passado,
falaria assim, sem floreios, simples e categoricamente, a meu
inquieto auditório:
- O verdadeiro inventor, o pioneiro, de fato, da
telegrafia e telefonia sem fio, meus caros meninos, foi um pobre
Padre brasileiro chamado de Roberto Landell de Moura, nascido no dia
21 de janeiro de 1861, na cidade de Porto Alegre, Capital do Rio
Grande do Sul. Muito antes das rudimentaríssimas experiências domésticas
feitas pelo jovem eletricista italiano Guilherme Marconi, e as
feitas pelo insigne professor Ernest Ruhmer, já o Padre Roberto
Landell de Moura havia realizado, não tateantes experiências, mas
decisivas demonstrações públicas de transmissões sem fio,
coroadas, todas elas, do mais completo e retumbante êxito. Conforme
está hoje sobejamente provado, verificaram-se essas demonstrações
na Capital do Estado de São Paulo, as primeiras, entre os anos de
1893 e 1894, do alto da Avenida Paulista para o Alto de Sant’Ana,
numa distância aproximada de oito quilômetros, em linha reta, e as
últimas, ainda no mesmo local, em meados de 1900, quando então,
através de um feixe de luz emitido por um maravilhoso aparelho de
sua invenção e fabricação, transmitiu e recebeu a voz humana de
uma distância de 45 milhas.
Desgraçadamente, porém, só em 1900, depois de
sofrer toda a sorte de vexames, calúnias e dificuldades
financeiras, depois de sustentar renhidas lutas contra o espírito supersticioso
da época e a mentalidade primária e rotineira de seus contemporâneos,
que viam nele um feiticeiro perigoso, e em suas atividades científicas,
artimanhas do diabo, conseguiu, afinal, patentear no Brasil seu
genial invento, sob o número 3.279, invento que, nos termos da
Carta-patente, consistia num “aparelho apropriado à transmissão
da palavra à distância, com ou sem fios, através do espaço, da
terra e da água”. Para vocês fazerem uma idéia do quanto ele
sofreu e do quanto era temido pelos ignorantes, que não podiam
admitir que uma pessoa pudesse falar com outra colocada a quilômetros
de distância, sem usar o fio telefônico, a não ser que essa
pessoa tivesse pacto com o demônio, basta que eu lhes diga que, um
bando de fanáticos em fúria, aproveitando-se de sua ausência,
invadiu e destruiu tudo que encontrou à frente, inclusive seu
prodigioso aparelho, por eles considerado “máquina infernal”.
Vendo o Padre Roberto Landell de Moura que, em sua Pátria,
recusavam dar-lhe se não crédito ou auxílio, ao menos simples estímulo
para que prosseguisse em suas investigações, resolveu
transferir-se para os Estados Unidos da América do Norte, onde
pretendia patentear seis de seus mais importantes inventos.
Tendo, assim, fixado residência na cidade de Nova
York, lá, no distrito de Manhattam, montou modesta oficina e pôs-se
a reconstruir seus aparelhos. No fim de três longos e laboriosos
anos, finalmente o Governo estadunidense reconhecia-lhe a
genialidade e, conforme se acha hoje cabalmente documentado,
concedia-lhe três patentes de invenção. Essas patentes, que,
requeridas em 1901 e 1902, traziam os números 771.917, 775.337 e
775.846, eram a do TRANSMISSOR DE ONDAS, a do TELEFONE SEM FIO e a
do TELÉGRAFO SEM FIO, respectivamente.
Não fossem as desapiedadas perseguições de que foi
vítima e a extrema pobreza em que sempre viveu o grande e humilde físico
brasileiro, o magnânimo e casto Padre Roberto Landell de Moura,
seus inventos teriam sido patenteados em 1893 ou 1894, antes,
portanto, do de Marconi, e dele seria agora a glória que outros
alcançaram. De regresso ao Brasil, esperava o sacerdote-cientista,
sempre generoso e confiante, que o reconhecimento de seu valor por
um país estrangeiro, não apenas o recomendasse a uma boa acolhida
por parte de sua Pátria, a que ele pretendia doar seus extraordinários
inventos (já então disputados por vários capitalistas
norte-americanos), mas ainda que levasse seus ignaros algozes a
arrepender-se das maldades e injustiças cometidas contra sua
pessoa. Mas frustraram-se-lhe as esperanças, extinguiram-se-lhe as
ilusões.
Enquanto, em Nova York, um grupo “de distintos
engenheiros, em sinal de apreço e consideração”, como, em sua
linguagem sóbria, noticiava o Jornal do Comércio, do Rio de
Janeiro, no dia 07 de maio de 1904, despedia-se do eminente inventor
homenageando-o com um jantar, seus patrícios aguardavam sua chegada
à Capital Federal para oferecer-lhe uma coroa de espinhos... Tudo
aqui lhe foi tirado, dificultado, recusado.
E o Padre Roberto Landell de Moura, um dos maiores gênios
que o mundo já viu nascer, morreu no dia 30 de junho de 1928, aos
67 anos de idade, num modesto quarto da Beneficência Portuguesa, de
Porto Alegre, incompreendido e, as vezes, até mesmo negado e
vilipendiado pelos seus compatriotas. E era ele tão bom, tão
piedoso e altruísta que, três anos antes de falecer, declarava a
um jornal da Capital sul-rio-grandense, o qual o entrevistava por
motivo da anunciada instalação, pela Rádio Clube Paranaense, de
uma emissora de grande potência, em Curitiba: “...Deus serviu-se
de minha humilde pessoa para levantar o véu que encobre os segredos
da natureza, por quanto o sistema de rádio-telefonia, atualmente em
uso, é baseado no princípio da superposição dos movimentos
ondulatórios elétricos e na aplicação de uma lâmpada semelhante
à lâmpada de Croockes, de 3 electródios, um pouco modificada, e a
qual serve tanto para transmitir quanto para receber mensagens telefônicas,
sem fio condutor.
Os norte-americanos, decorridos os 17 anos de prazo
que marca a lei das patentes, puseram em execução prática as
minhas teorias. Não sou menos feliz por isso. Vi sempre nas minhas
descobertas uma dádiva de Deus. Como sempre trabalhei para o bem da
humanidade, folgo em ver hoje realizado, na prática utilitária,
aquilo que foi todo o meu sonho de muitos dias, de muitos meses, de
muitos anos.” E, agora, meus caros alunos, pasmem com esta revelação:
a lâmpada de 3 electródios, essa lâmpada maravilhosa, sem a qual
não teria sido possível a existência das atuais estações de rádio,
foi patenteada no Brasil, em 1900, e nos Estados Unidos da América
do Norte, em 1904, pelo Padre Roberto Landell de Moura, e
repatenteado em 1907, neste último país, pelo grande físico
norte-americano Lee De Forest, a quem unicamente cabe hoje a glória
de havê-la inventado... E só a invenção dessa lâmpada
imortaliza um cientista e dá notoriedade a uma nação!
Meus caros alunos, jamais imitem os nossos incultos avós
no pecado e no crime por eles cometidos, que se é pecado perseguir
um justo, é um crime negar um Sábio. E o Padre Roberto Landell de
Moura era Sábio e era Justo! Assim falaria, eu, se fosse professor e ...
ERNANI
FORNARI
Obs.: Possuo cópias das patentes americanas dos inventos do nosso
Padre- cientista Roberto
Landell de Moura, assim como os jornais da época.
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Colaboração: IVAN
DORNELES RODRIGUES - PY3IDR |
email:
ivanr@cpovo.net |
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