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JUNIOR
TORRES DE CASTRO - PY2BJO
O
radioamador
brasileiro Júnior Torres de Castro, PY2BJO,
é um dos poucos brasileiros que teve o privilégio de inserir o seu
nome na galeria dos nominados para o prêmio Nobel da Paz. Além
dele só o ex-arcebispo de Olinda e Recife, Helder Câmara, teve
esta honra. O mérito deste paulista de Botucatu, foi ter construído
com recursos próprios o primeiro satélite artificial com fins
educativos e humanitários, o Dove (pomba em inglês). Colocado no
espaço pela empresa francesa Ariane Espaciale há dez anos, a
engenhoca, desenvolvida em uma garagem no bairro paulistano do Pacaembu,
transmite desde então mensagens de paz que podem ser captadas na
Terra por um HT,
um singelo receptor acessível para qualquer aficcionado.
A engenhoca foi construída à partir de um projeto batizado
Microsat, idealizado por Torres de Castro em 1957. Naquela época
este radioamador, engenheiro civil e elétrico formado pela
Faculdade Mackenzie e com passagens pelas universidades de Columbia
e Stanford, nos Estados Unidos, ficou fascinado ao ouvir em seu
HT
os sons emitidos pelo Sputinik, o primeiro satélite lançado ao
espaço pelos
soviéticos.
Os sinais de telemetria (condições gerais do projétil
no espaço, desde localização até temperatura e movimento)
ativaram a imaginação do cientista brasileiro. "Por quê não
estabelecer uma ponte de comunicação entre a tecnologia espacial e
a população?" questionou 12 anos antes que as imagens da
televisão mostrassem Neil Armstrong pisando na lua pela primeira
vez.
Impaciente para esperar o avanço das comunicações espaciais,
Castro, ainda na década de 50, percorreu o planeta distribuindo
cerca de dois mil receptores que decodificavam os sinais dos satélites
em escolas e centros educacionais. Gravou ainda três
mil mensagens de paz de estudantes, mais tarde inseridas em seu satélite,
em um momento em que a Guerra Fria era a tônica das relações no
mundo. Os receptores que ele distribuiu permitem que crianças
e adolescentes ouçam as mensagens de paz e também tenham acesso às
informações de telemetria do satélite. Com um mapa na mão podem
verificar até a posição onde o satélite se encontra no céu.
"Castro é um exemplo para cientistas e estudantes. Tem a
obsessão dos grandes realizadores". A frase é do diretor do
Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Márcio Barbosa.
"Estamos dispostos a ajudá-lo em seus próximos projetos
porque ele representa a elite da inteligência nacional".
Mas,
nem sempre foi assim. O engenheiro paulista percorreu um verdadeiro
calvário antes de conquistar fama e assombrar o mundo por ser a única
pessoa física do planeta a possuir um satélite.
Em
1976, por exemplo, sem qualquer apoio oficial criou o Little Brick,
ou Tijolinho, a primeira versão de um satélite que era equipado
com sintetizador de voz e transmitia palavras inteligíveis.
Mergulhou com afinco nas lojas da rua Santa Efigênia, onde se
concentram as lojas de componentes eletrônicos em São Paulo, e
concluiu o equipamento ao custo de US$ 5 mil. Entretanto, embora
funcionasse com perfeição na terra, o Tijolinho não poderia ser
colocado em órbita porque suas peças não suportariam as violentas
mudanças de temperatura e pressão e muito menos a evaporação dos
elementos químicos de sua estrutura.
Estas restrições não impediram que Castro colocasse o Tijolinho
embaixo do braço e surpreendesse a comunidade científica em um
congresso da Universidade de Utah, realizado em 1977, na cidade de
Salt Lake City. Sob olhares atônitos dos cientistas presentes, o
engenheiro brasileiro colocou sua geringonça em cima de uma mesa e,
do outro lado da sala, começou a receber os sinais em viva-voz por
um
HT.
Aceito na comunidade científica, Castro mudou-se para Bolder, nos
Estados Unidos e enviou cópias de seu projeto para cinco
fabricantes de equipamentos espaciais, devidamente acompanhadas por
cartas de recomendação de cientistas como Jean King, Harold Price
e Jim White, todos papas da estudo do espaço sideral.
Com peças doadas ou vendidas a preço de custo, o Dove finalmente
ficou pronto e seu custo inicialmente previsto para US$ 4 milhões,
acabou reduzido para US$ 225 mil. O satélite falante na forma de um
cubo de 23 centímetros e dez quilos de peso foi lançado da base
espacial de Kourou, em Caienna, na Guiana Francesa, a bordo do
foguete Ariane 4, as 21:30 horas do dia 21 de janeiro de 1990.
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