FABIANO
VIANA - PY3AHK
Minha
história no rádio começou no inverno de 1995. Era colega de Cézar
Augusto Guimarães, filho do PY3YT- Cássio. O Cássio tinha uma chácara
nas margens da barragem do Passo Real, e fui convidado para ir junto
com a família deles passar o final de semana na chácara.
O
Cézar tinha um motociclo, então fomos ele e eu de mobilete e os
pais dele de carro, chegamos mais ou menos uns 25 minutos na frente
deles. Quando eles chegaram, o Cássio desceu carregando um
equipamento, uma caixa pretinha, com um microfone pendurado,
alimentado com um bateria de carro.
Observei
atentamente ele instalar seu rádio, acoplar a antena de 40 metros,
na hora nem sabia o que era 40 metros, e falava umas coisas engraçadas
e estranhas para mim. Recordo que era assim: "CQ 40, CQ 40, CQ
40, Papa Yankee 3 Yucatan Toronto, operador Cássio, transmitindo do
QTH Rural, as margens da Barragem do Passo Real, chama geral e
agradece qualquer contestação com Bom Dia". Minha primeira
reação foi a de rir com todos aqueles códigos e palavreados
estranhos, quando foi para minha surpresa escutei: "PY3YT,
PY3YT, muito bom dia Cássio, tudo de bom, áudio limpo e
cristalino, adiante PY3YT, de Papa Yankee 3 Canadá Zelândia".
Fiquei barbarizado com aquilo, me apaixonei a primeira vista.
Infelizmente perdi meu amigo de final de semana, que era o Cézar,
para ganhar um companheiro de rádio, o Cássio.
A
partir daquele final de semana, fui tentando assimilar as coisas,
tentando entender de uma forma ou outra as novidades que me chegavam
pela "caixinha mágica". Em agosto fui apresentado a um
grande amigo, PY3CFP - José Faoro, meu grande professor e amigo de
técnica. Cheguei até o seu Shack, ele estava sentado em uma
cadeira com um microfone na mão, mas não era mais uma caixinha, e
sim uma caixona, de mais ou menos 1,2 metros de altura. Ele me
explicou que era uma estação de AM, com duas válvulas 811 que
modulavam duas 813. Não entendi nada.
Todo
o final de semana comecei a fazer 11 metros, usava o indicativo do
José. Meses. Mais tarde já estava com minha estação montada e
com indicativo para os 11 metros em mãos. De janeiro até outubro
de 1966, trabalhei quase todos os estados do Brasil, Argentina,
Chile, Paraguay, Antilhas, Ilhas Canárias e Portugal. Mas não me
contentava mais com isso, queria falar nas mesmas frequências que o
Cássio, Carlos e José falavam. Queria saber o que era a tal de telegrafia, saber o que era
uma válvula, um transistor. Eu adorava olhar os cartões do José.
Cartões de todas as partes do mundo, contatos realizados nos mais
diversos modos.
Foi
então que em novembro haveria banca examinadora em Caxias do Sul.
Comecei a estudar Telegrafia, Legislação, Técnica e Etica
Operacional e Radioeletricidade.
O
Cássio havia combinado com PY3QH - Roberto, de eu ficar na casa
dele, só que o Roberto estava na Praia, mas deixou avisado para seu
genro e filha que eu iria para lá. O exame iria acontecer no sábado
de manhã. Sai de Ibirubá na sexta a tarde.
Chegando
o dia do exame, fui até o local da prova, um misto de nervosismo e
pavor me bateu, fui aprovado somente em Legislação e Técnica e Ética
Operacional, deixando a Telegrafia e Radioeletricidade para prestar
em Porto Alegre, em Dezembro.
No
dia 10 de dezembro fui de carona com um pessoal de uma
transportadora até Porto Alegre. O exame era as 9:00 horas do dia
11. Cheguei em Porto Alegre era 01:15 horas, e o cara me deixou no
começo da Farrapos, perto de uma agência do Bradesco. Meu ponto de
referência era Rua Lila Ripoll, 567. Lá estavam me esperando
PY3AID e PY3AWD, Iracy e Pery. Com 17 anos, sozinho, com uma sacola
de roupas e alguns trocados, aquela hora da madrugada em Porto
Alegre, mais perdido que cego em tiroteio, que eu iria fazer.
Caminhei uns 30 metros, achei um Ponto de Táxi. Dei o endereço
para o taxista, e o cara me levou direto ao endereço, sem embromação.
Cheguei lá estava a Iracy me esperando, querida, sorridente, me
apresentei a ela, que me abraçou e me encaminhou para o quarto onde
dormiria.
No
outro dia fui apresentado ao Pery e aos demais familiares. Naquela
bela manhã de quinta-feira conheci uma pessoa a qual me marcaria
pelo resto dos meus dias, Aldo Ferreira de Araújo - PY3AFA. Peguei
o ônibus e fui para o centro de Porto Alegre, chegando na Rua Dr.
Flores, 62, sede da LABRE/RS, subi até o 13º andar. Fui até a uma
sala onde estava sentado um senhor alto, com voz calma e sorridente,
que me pediu que assinasse um termo e sentasse que logo começaríamos
a prova de recepção e transmissão de Código Morse. O Senhor a
quem me refiro era o então amigo Alberto Volkmar Christensen -
PY3ACC. Jamais me esquecerei do texto que ele telegrafou. Tive três
letras perdidas e fui aprovado. Situação contrária de quatro
colegas de uma turma de onze que estavam prestando o exame. Mais
tarde fomos sabatinados sobre a prova de radioeletricidade, na qual
tive 65% de acertos e também fui aprovado. Estava completado, já
me considerava um radioamador. Depois das saudações e
cumprimentos, me direcionei até ao Ministério das Comunicações
que ficava na Rua Duque de Caxias. Chegando lá fui atendido pelo
Senhor Daniel, que perguntou se eu tinha alguma preferência de
Indicativo de Chamada. Disse-lhe
que queria PY3FV que estava vago, mas qual foi a minha
surpresa quando ele falou que eu não poderia receber o Indicativo
de Chamada de classe B, por ser menor de idade.
Na euforia de ter
conseguido meu objetivo, nem lembrei que ainda era menor de idade.
Contudo poderia receber um indicativo de classe C e esperar até
completar os tão esperados 18 anos para obter o indicativo de
classe B. Em homenagem aos meus anfitriões, Pery e Iracy, escolhi o
Indicativo de Chamada PU3AWD.
Voltando
a Ibirubá, já como radioamador, foi hora de chamar geral nos 80
metros. Chamei geral no dia 16 de dezembro de 1997, às 18:58 horas,
na QRG de 3.734. Meu padrinho foi Aires - PY3AIR, de Pelotas. Meu
primeiro contato em CW foi na mesma noite com Claudino - PY5CK, de
Reserva no PR. Meu primeiro DX em fonia foi nos 80 metros, com ZS6IR
- Rob, da África do Sul e meu primeiro DX em CW foi com SP2 IY -
Slow, da Polônia.
Depois
desses fatos todos comecei a me integrar com a comunidade
radioamadorística do Rio Grande do Sul e do Brasil. Minhas práticas
se detiam em CW - AM - SSB, modalidades que aprecio até hoje.
Dentre elas a que mais gosto é o CW.
Em
um desses papos pelo rádio conheci dois colegas que muita atenção
me deram. Eles se encontravam em 3.768 Khz, todas as manhãs ou a tardinha. Kuhlmann - PY3DK e Darcy - PY3BXP foram colegas
que me ajudaram muito. Kuhlmann foi um verdadeiro mestre, tanto nos
contatos em fonia quantos nos praticados em CW. E o tempo foi
passando, chegou 1997, faltava só seis meses para completar minha
maior idade, e eles passaram rápido. Em um QSO nos 80 metros, um
dia ficou acertado que quando recebesse meu indicativo de Classe B,
eu chamaria geral lá da Cascata, Pelotas, QTH do meu saudoso amigo
PY3AFA, comandante da Rodada do Sul, que funciona até hoje em 7.242
Khz, todos os dias, das 12:30 até as 14:00 horas.
Junho
chegou, e passou rápido, dia 28 completei meus 18 anos. Dois dias
depois fui a Porto Alegre buscar o que tinham me prometido. Fiquei
hospedado na casa de um amigão, Orival Bianchi - PY3BIC, que me
apresentou todos os seus familiares, e tive o prazer de dormir junto
ao Shack do Bianchi. No outro dia, pela parte da manhã, fui até o então Ministério
das Comunicações. Chegando lá, confesso, tremia a perna. O Daniel
me conheceu, deu uma bela gargalhada e perguntou qual o Indicativo
de Chamada que eu queria. Resolvi homenagear o primeiro radioamador
de Ibirubá, Eugênio Paulo Mallmann, e reativei a PY3AHK. Na mesma
tarde parti com destino a Pelotas, lá me esperava meu
“comandante” PY3AFA. Cheguei em Pelotas e fomos diretos para a
Cascata, conheci o tão lindo lugar que o Aldo tinha, um lugar
calmo, bonito, bem conservado, e com um pomar de frutas fabuloso,
onde tive o prazer de comer bergamotas dos mais variados tipos e
sabores.
Aldo
me levou para conhecer a cidade de
Pelotas, nossos amigos de rádio, que tive o prazer de
conhecer pessoalmente PY3AIR - Aires, PY3OSM - Osmindo e outros. No
domingo era o tão esperado dia. O Aldo me aprontou uma grande
surpresa que jamais vou esquecer. Veio aproximadamente trinta
radioamadores para um belo churrasco e depois me verem chamar geral.
Almoçamos
um churrasco de cordeiro mamão fabuloso, regado a refrigerantes e
cervejas, num espírito de confraternização que só o
radioamadorismo poderia ter proporcionado.
Chegou
a hora, a perna voltou a tremer, estava eu sentado em frente a
PY3AFA e todos a minha volta. O TS 130 estava pronto, 7.242 foi a
QRG escolhida e assim foi: “CQ 40, CQ 40, CQ 40, chamando geral
para batismo PY3AHK, PY3AHK, PY3AHK, chama geral e passa a escuta
para receber as bençãos eletrônicas...” Quem me atendeu foi
PY3AHF- João Batista, de Santo Ângelo-RS. Todo mundo comemorou, me
abraçaram, me deram as boas vindas. O Aldo com seu espírito
esportivo de sempre, me batizou com cachaça e farinha de mandioca,
fazendo eu ter que tomar um banho depois do QSO.
Depois
daquele maravilhoso final de semana, retornei a Porto Alegre com
PY3BZL - Garcia. Durante a viagem furou um pneu do carro, mas foi rápido
para trocar.
Ao
retornar para Ibirubá, cheguei em meu Shack, uma caixa de madeira
com meu endereço, remetida por PY3DK - Kuhlmann. Abri e quase
chorei, era um Manipulador Eletrônico. Prontamente liguei para o
Kuhlmann agradecendo o presente.
Em
outubro do mesmo ano tivemos o 45º Rancho do Radioamador Gaúcho,
em Novo Hamburgo, evento que se destacou pela qualidade da programação
oferecida aos colegas. Dentro dos Parques da Fenac foi instalada uma
estação que recebeu o indicativo – ZY3RRG, na qual foram
operadas Rodadas ao vivo, do evento. Fui agraciado para ser o
comandante da Rodada Saco de Cuia, que ia ao ar de manhã, das 07:00
até as 8:00 horas.
Foi
lá, nesse evento, que tive o prazer de conhecer inúmeros colegas
que somente havia
falado pelo rádio. Foi uma coisa fantástica, e como é bom
conhecer alguém que você tem somente uma voz como lembrança.
Foi uma experiência fascinante.
Chegou
1998, e fui prestar minhas obrigações com a Pátria. Dei entrada
no Exército Brasileiro em 30 de março de 1998, na Bateria de
Comando da Artilharia Divisionária da 3ª Divisão de Exército,
quartel sediado em Cruz Alta- RS. Fui designado para ser rádio-operador
(o que já era previsto). Em manobras de campo, era operador de um
Tenente-Coronel, e quando não estava em manobras, prestava serviço
na estação de rádio do Quartel General da AD/3. Por quantas vezes
fiz uso dos equipamentos daquela estação para entrar nas rodadas,
principalmente na Rodada do Sul.
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