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A
SEGURANÇA NA ESTAÇÃO DE RADIOAMADOR
Abordaremos
alguns ascpectos sobre a prevenção contra choques elétricos e
sobre operação segura em estações de radioamadores.
Como
radioamadores licenciados, todos possuímos, em nossas estações,
um ou mais equipamentos energizados através da rede elétrica de
117 ou 220 volts. Até os equipamentos transistorizados, muitas
vezes, operam a partir de fontes de alimentação, conversoras ou
carregadores de bateria conectados à rede domiciliar de corrente
alternada.
Quando
bem utilizados, estes equipamentos oferecem considerável
segurança quanto ao perigo de choques elétricos acidentais,
por exemplo. Nunca é demais, contudo, relembrar alguns pontos básicos
que convém termos sempre em mente, para a perfeita manutenção da
segurança em nossa estação.
Em
primeiro lugar, evite operar equipamentos com gabinete aberto, sem
tampas de proteção. Este aspecto é importante não apenas para a
proteção contra choques elétricos, causados pelo contato
acidental com algum componente com potencial de tensão elevado, mas
também para o perfeito funcionamento do aparelho. Transmissores sem
blindagens adequadas, por exemplo, além de oferecerem riscos à
vida dos operadores, pelas altas tensões presentes em seus circuítos,
freqüentemente também irradiam sinais indesejáveis, capazes de
provocar interferências em televisores, etc.
Assim,
cuide para que o gabinete do seu transceptor esteja sempre bem
fechado, com boas conexões elétricas nas suas junções. Não é
incomum que - principalmente com alguns equipamentos novos - às
vezes seja preciso lixar levemente alguns pontos, sob a parte
inferior da tampa, junto aos parafusos de fixação, para remover um
pouco da pintura e garantir um bom contato elétrico. Utilizar
pequenas arruelas de pressão, denteadas, nos parafusos de fixação,
pode ser, igualmente, uma boa alternativa.
Estude
a possibilidade de instalar um bom terminal de terra para conectar
aos equipamentos de sua estação. Um terminal de terra eficiente,
é importante ressaltar, embora seja de difícil construção, em
termos de radiofreqüências, pode ser fundamental na proteção do
operador contra choques elétricos. Em especial para radioamadores
iniciantes na atividade, operando nas faixas baixas de HF, com pouca
prática no manejo de equipamentos eletrônicos. Informações
complementares sobre o tema podem ser obtidas em todas as edições
do RADIO AMATEUR’S HANDBOOK,
da ARRL, bem como no livro TVI,
etc., de autoria do nosso amigo e colega Odi Melo.
Verifique,
regularmente, o estado dos plugues e cabos de ligação dos
equipamentos existentes na estação. Não permita que pontas
desencapadas ou fios com isolamento deficiente, ligados à rede de
corrente alternada, fiquem expostos. Revise também o estado das
tomadas elétricas da parede, bem como o estado da própria fiação.
Não é preciso lembrar que equipamentos de radioamadores podem
solicitar correntes bastante respeitáveis da rede. Para evitar
riscos de aquecimento da fiação elétrica, perigo de curto-circuíto,
etc., é necessário que os condutores da rede de energia que
abastece toda a estação sejam de bitola adequada (2 milímetros de
diâmetro ou mais), bem como que estejam corretamente instalados no
interior de conduites, etc.
Uma
outra recomendação importante: para a máxima segurança na estação,
o ideal é que o radioamador, ao ausentar-se da estação, possa
desligar todos os equipamentos submetidos à tensão. Assim, procure
colocar um interruptor geral no recinto da estação, em especial
quando existirem crianças na família. Desta forma, não só o
operador estará protegido contra choques acidentais, quando não
estiver utilizando os equipamentos da estação, mas também os
eventuais freqüentadores do “shack”.
Ao
instalar um interruptor geral para a sua estação, prefira os que
possuam fusíveis internos e que sejam do tipo duplo, isto é, que
desliguem tanto o “vivo”, como o “neutro” da rede elétrica.
Isso evitará que descargas elétricas oriundas de raios que
atinjam, eventualmente, a rede, durante tempestades, possam
danificar os seus equipamentos.
Depois,
habitue-se, ao ausentar-se da estação, a desligar sempre o
interruptor geral do “shack”. Uma boa alternativa para que você
possa lembrar-se de desligar o interruptor geral é instalar junto
ao mesmo, uma lâmpada piloto neón. Quando acesa, funcionará como
aviso de que os equipamentos estão energizados e que portanto, o
interruptor geral precisa ser desligado quando você encerrar os
trabalhos na estação. Instale o interruptor geral com a lâmpada
piloto de advertência em local bem visível, de preferência próximo
à porta de acesso à estação. Instrua também os demais membros
da família sobre o funcionamento do interruptor, esclarecendo como
desligar a rede elétrica da sua estação.
Essa
providência poderá ser útil em casos de acidente, principalmente
quando você estiver, na oportunidade, afastado de casa.
Como
vimos, o funcionamento da sua estação de radioamador não deve
oferecer qualquer risco a você e à sua família ou ao seu patrimônio.
Em eletricidade, nunca é demais repetir, o melhor é prevenir que
remediar.
Assim,
seja zelozo na instalação e na mautenção dos equipamentos da sua
estação. Faça com que todos os seus aparelhos estejam no interior
de gabinetes de metal, e que estejam conectados a um bom terra. No
caso de algum curto-circuito ou de uma pane em um componente
qualquer, o máximo que pode acontecer, quando os equipamentos da
sua estação estiverem corretamente aterrados, será o rompimento
de algum fusível de proteção. E não um choque elétrico
potencialmente fatal, causado pelo contato do operador com o
gabinete metálico.
Vamos
ver agora algumas dicas que podem ser úteis para tornar os seus
equipamentos mais seguros, em especial para os que apreciam a
experimentação e as montagens caseiras.
Reserve
o máximo de cuidado possível no projeto e na construção das
fontes de alimentação de seus aparelhos eletrônicos. Fios, cabos
e conexões devem ficar perfeitos, com boas ligações elétricas e
boa isolação dos demais pontos do circuito.
Escolha
capacitores de boa qualidade para a instalação, quando o projeto
assim o exigir, entre os lides do primário do transformador de
alimentação e a massa. Use capacitores com, no mínimo, 1.600
volts de isolação.
Na
saída de fontes de tensões elevadas, procure instalar resistores
de drenagem, com bastante folga em sua dissipação, após os
capacitores eletrolíticos. Os resistores de drenagem servem para
evitar choques, que podem ser fatais, causados pelo contato
acidental com os terminais dos capacitores eletrolíticos, capazes
de armazenar cargas perigosas mesmo muito tempo depois que o
equipamento foi desligado da rede.
A
propósito ainda de fontes de alimentação, lembre-se que no
projeto de circuitos dobradores ou multiplicadores de tensão,
alguns capacitores eletrolíticos estarão com a sua carcaça
“viva” ou seja, com potencial fornecido pela fonte, oferecendo
risco de choques elétricos. Neste caso, além de isolar estes
componentes do chassís, é importante envolvê-los em algum invólucro
isolante, caso já não possuam. Isso evitará o contato acidental
do operador com a carcaça metálica do componente, ao manusear o
equipamento.
Nas
fontes de alimentação de alta tensão, o recomendável é utilizar
interruptores de segurança do tipo “NF”, normalmente fechado,
acoplados às tampas de acesso ao gabinete. Os interruptores devem
estar conectados de tal forma que, sempre que for preciso abrir a
tampa do aparelho, o fornecimento de energia ao circuito seja
automaticamente cortado. Este recurso também deve ser utilizado nos
estágios de saída de transmissores valvulados, amplificadores
lineares, etc., onde existem, normalmente, tensões e correntes
bastante elevadas.
Ao
fazer qualquer reparação nos equipamentos de sua estação,
desligue-os, antes, da rede elétrica.
De
uma forma geral, todos supomos que as tensões elétricas muito
elevadas é que são as mais perigosas. Tal noção, contudo, não
é correta. Na verdade, conforme comprovam as estatísticas, muito
mais gente morre, todos os anos, por choques elétricos de baixa
tensão, como os da rede doméstica de corrente alternada, do que
com altas tensões. Há episódios fatais de choques acontecidos até
com as tensões existentes na rede telefônica, com as vítimas
tomando banho de imersão, por exemplo. A literatura médica também
registra casos fatais com choques fracos de corrente alternada de
apenas 25 volts.
A
eletricidade pode lesar o corpo humano de várias maneiras. Pode
agir sobre o SNC, Sistema Nervoso Central da vítima, ou sobre o
coração, produzindo perda reversível da consciência ou a morte.
O calor produzido pela ação da passagem da corrente elétrica pode
também coagular os tecidos e produzir necrose. Por último, a
tetania, ou seja, os espamos musculares violentos provocados pelo
choque podem causar lesão dos ossos ou dos tecidos moles.
Cumpre
destacar que a corrente é ainda mais importante que a tensão na
severidade do choque. A intensidade da corrente elétrica depende da
tensão e da resistência dos tecidos, principalmente da pele. A
resistência da pele diminui com a presença de umidade. O suor, por
exemplo, reduz drasticamente a resistência da pele: quando está
seca, fica entre 100 e 600 mil ohms; quando molhada, pode cair a
1.000 ohms ou menos. A resistência interna do corpo humano é muito
menor. É por esta razão que a corrente se torna muito mais
perigosa se entrar no corpo através de um corte ou outro tipo de
ferimento na pele, como uma queimadura, o que pode acontecer quando
o contato com a fonte de eletrocussão é prolongado.
Corrente
da ordem de 200 microampéres e menores passam pelo corpo sem efeito
algum. Correntes da ordem de um miliampére produzem contrações
musculares. Podem ser tão intensas que impedem a vítima de
livrar-se do circuito. Em geral, os homens podem libertar-se de
correntes de 9 miliampéres ou menos, enquanto que o valor máximo
para as mulheres é de 6 miliampéres. Correntes de 15 a 20 miliampéres
também provocam dor e paralisia, impedindo que a vítima possa se
libertar sem auxílio.
Uma
corrente elétrica de 100 miliampéres, fluindo das mãos para os pés,
por exemplo, pode produzir fibrilação ventricular, isto é, o
funcionamento errático do coração ou até a sua parada. Já as
correntes entre 300 e 200 miliampéres são duplamente perigosas,
porque tendem a provocar fibrilação ventricular e paralisia
respiratória.
O
que fazer para socorrer uma vítima de choque elétrico? Em primeiro
lugar, livrar imediatamente a vítima da corrente elétrica da fonte
de eletrocussão. Cuidado para, ao tentar salvar a vítima, você
também não seja atingido pela corrente elétrica. Após a liberação
da vítima, iniciar a respiração artificial, se cessou a respiração
espontânea, bem como a massagem cardíaca. Tanto a respiração
artificial como a circulação artificial devem ser mantidas até a
chegada de socorro médico, ou até que se tenham restaurado,
satisfatoriamente, as respectivas funções. Estas medidas são
muito importantes para a ressuscitação de vítimas de choques elétricos.
Estudos médicos evidenciaram que, nas pessoas em que se aplicou a
respiração artificial num período de três minutos ou menos após
o choque, a taxa de sobrevivência foi de 73%.
Como
vimos, não se iluda com a idéia de que apenas as altas tensões são
perigosas. Tudo depende da intensidade da corrente. Podemos conhecer
a intensidade da corrente aplicando a fórmula derivada da Lei de
Ohm: a intensidade da corrente é igual a tensão dividida pela
resistência.
Vejamos
um caso prático. Qual a intensidade de uma corrente de 110 volts,
percorrendo uma pele cuja resistência seja de 500 ohms, por
exemplo? Aplicando a fórmula, veremos que a intensidade da corrente
será de 220 miliampéres. E, como comentamos anteriormente, uma
corrente desta ordem é potencialmente fatal, pois pode produzir
fibrilação ventricular, parada respiratória e espasmos musculares
generalizados, que impediriam a vítima, mesmo que se mantivesse
consciente, de libertar-se sozinha da fonte do choque elétrico.
Até
tensões tão baixas como 12 volts podem ser perigosas,
teoricamente, se a resistência da pele for igualmente baixa. Uma
tensão de 12 volts percorrendo uma pele com uma resistência de 100
ohms, por exemplo, terá uma intensidade de corrente de 120 miliampéres.
Uma resistência de 100 ohms pode ser encontrada entre uma orelha e
a outra, em alguns indivíduos, ou então, em áreas de pele não
protegidas, como em cortes ou ferimentos.
Moral
da história: em eletricidade, nunca é demais repetir, mais vale
prevenir que remediar. Seja rigoroso na manutenção da segurança
em sua estação, ou em sua bancada de eletrônica. Não permita que
a eletricidade possa representar um risco à sua vida.
Uma
observação final: não esqueça também da segurança do seu
sistema irradiante. Não levante torres ou mastros metálicos próximos
à rede elétrica. Não instale a sua antena em pontos tais que, no
caso de queda por vendavais, possa interceptar, na sua trajetória,
qualquer fiação de energia elétrica. Estaie convenientemente
todas as estruturas metálicas utilizadas para a sustentação das
antenas da sua estação. Ao levantar mastros, torres, postes, etc.,
solicite, antes, o auxílio da concessionária local de energia elétrica.
Caso necessário, o pessoal da empresa interromperá o fornecimento
de eletricidade nas cercanias de sua estação, caso seja constatado
qualquer risco de contato acidental com a rede.
Fontes
consultadas:
-
The Radio Amateur’s Handbook, da ARRL
-
Tratado de Medicina, de Baeson e McDermot
-
Revista Eletrônica Popular, março/abril de 1970
-
TVI, etc. - Um Estudo para Radioperadores, de Odi Melo, Antenna Edições
Técnicas, 1986
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